Alô, pessoas!
Caetano Veloso é um dos nomes mais conhecidos e amados dentro do meio da música popular brasileira. Suas músicas têm letras de maioria complexa e únicas.
Caetano sempre manteve um ar misterioso em suas músicas, mas isso não significa que suas letras são impossíveis de se interpretar ou analisar.
Alegria, Alegria é um exemplo dessas músicas com uma letra peculiar e com um toque irônico. A música foi composta durante a ditadura militar e faz referência a esse período de forma ironicamente alegre.
Afinal, o que fala Alegria, Alegria? Seria um canto alegre para celebrar a ditadura? Seria uma crítica ao governo da época? Seria uma música romântica disfarçada de crítica? Essas perguntas serão respondidas a partir dessa interpretação!
Vamos lá!
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou
Caminhar contra vento é o mesmo que nadar contra maré. No caso, em meio de uma ditadura militar, caminhar contra o vento é ir adiante e enfrentar a ditadura e suas diretrizes.
"Sem lenço e sem documento" seria uma analogia em não seguir o padrão de andar com identidade. Outra referência a não seguir regras.
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Talvez muitos devem saber que os anos 60 não foi uma década muito tranquila para o mundo. Nesse período, acontecia a Guerra Fria e em paralelo, a Guerra do Vietnã, além das muitas ditaduras na América Latina.
Espaçonaves seria uma referência à Guerra Fria e o plano de mandar o homem ao espaço. E guerrilhas seria uma referência a todo caos que o Brasil enfrentava, tal como os movimentos sociais contra os militares.
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
Se voltarmos na etrofe anterior, podemos perceber que "o sol se reparte em...", e esta estrofe é uma continuação da anterior. Então, dá para entender como uma fragmentação que o eu-lírico faz, dando destaque aos muitos presidentes das grandes nações da época, à boemia, ao carnaval, às ameaças de bombas e um medo de uma guerra nuclear e à Brigitte Bardot, uma atriz francesa muito famosa da época.
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
O que encontramos nas bancas de revista além de revistas? Jornal. E porque ele está alegre, sente preguiça? O eu-lírico se considera nessa estrofe como uma daquelas típicas pessoas que vêem notícias de relance ou só dá atenção para as notícias boas e esquecem das notícias ligadas à política, se entregando a um estado de alienação.
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não?
Nessa estrofe, o eu-lírico enfatiza os versos "eu vou", dando a ideia de que ele vai continuar caminhando contra o vento com esperanças.
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou
A vida de uma pessoa padrão naquela época era baseada em estudar, ser bem sucedido e ter uma família, mas o eu-lírico enfatiza novamente que "sem lenço e sem documento", ele continua caminhando contra todos esses padrões.
Eu tomo uma Coca-Cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou
A Coca-Cola desde muito tempo foi um ícone representativo da jovialidade e o eu-lírico apresenta como um ícone de alienação por uma admiração frenética pelos Estados Unidos.
Além disso, ele cita "casamento" novamente, mas ficou claro que ele não queria. E em meio de alienação por seguir um padrão jovial de beber Coca-Cola como um mauricinho e se casar, ele busca consolo na música.
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
Ainda em sua caminhada, o eu-lírico passa por mais fotos e nomes, mas não carrega consigo conhecimento, armas, fome ou contato pelo coração do Brasil.
Talvez o eu-lírico estivesse demonstrando um posicionamento passivo, apesar de ser contra à ditadura militar.
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Em vez de se casar, o eu-lírico quer seguir no meio artístico, como foi dito na estrofe anterior, já que o mundo da música o consola. E se apresentar na televisão, mostrando a sua arte, em meio de opressão seria um momento de euforia, o que explica "o sol de quase dezembro" estar tão bonito.
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
A parte mais otimista da música, onde enfatiza que o eu-lírico vai continuar em sua luta.
De uma opinão, pessoal, essa etrofe define extamente o que a música quer dizer em seu geral.
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
O eu-lírico pergunta para o interlocutor e para si mesmo "por que não caminhar contra o vento sem lento e sem documento, por entre fotos e nomes no coração do Brasil?"
De um olhar geral, a música é um canto otimista e pacifista. É diferente de muitas músicas desse período, pois impõe justamente essa ideia de ir contra a ditadura e não agir de forma radical ou extremista.
Que maravilha! interpretação perfeitíssima dessa música que é um ícone na MPB. Parabéns!
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